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Serrambi: Uma Investigação Sem Desfecho

  • Foto do escritor: Sabrina M. Szcypula
    Sabrina M. Szcypula
  • 28 de mai. de 2023
  • 8 min de leitura



O que foi o caso Serrambi

Serrambi foi um dos crimes sem solução mais conhecidos do país, que narra os assassinatos das adolescentes Maria Eduarda Dourado e Tarsila Gusmão, ambas de 16 anos, na praia de Serrambi, no Litoral Sul de Pernambuco, onde os irmãos Marcelo e Valfrido (conhecidos popularmente como ‘kombeiros’) foram acusados de cometer o crime, mas foram absolvidos em júri popular em 2010.


O que aconteceu com Maria Eduarda e Tarsila

Maria Eduarda e Tarsila eram duas adolescentes de classe média alta que estavam passando o feriado do Dia do Trabalhador com um grupo de amigos na Praia de Serrambi, em Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco.

Nenhuma das duas garotas tinham problemas com seus pais, eles sempre sabiam com quem as filhas andavam, quais festas frequentavam e as duas eram consideradas independentes, inteligentes e muito bem articuladas, mesmo considerando sua pouca idade.

No dia 03 de Maio de 2003, Maria e Tarsila foram em um show que estava ocorrendo na praia devido ao feriado prolongado e lá encontram com um antigo colega chamado Thiago, também de classe média alta, que as convidou para uma festa que iria acontecer no fim daquele dia na casa de praia de sua família.

Nesta festa estavam presentes diversos adolescentes de famílias bem sucedidas que as garotas conheciam e, por conta disso, as duas adolescentes, juntamente com Thiago e outros amigos, foram convidadas a participar de um passeio de lancha até Maracaípe por um dos amigos de Thiago e conhecido das duas, esse passeio seria apenas no dia seguinte após a festa, já que esta terminaria tarde naquele dia e eles queriam aproveitar o dia em Maracaípe.

No dia seguinte, chegando em Maracaípe, o responsável pela navegação da lancha informou que, por volta das 16h da tarde, todos deveriam retornar até a lancha para que pudessem voltar para Serrambi, por conta da maré que, a partir daquele horário, ficava baixa, o que dificultaria a volta para a praia.

Enquanto todos se mantiveram em um quiosque próximo à praia de encontro, as duas adolescentes decidiram caminhar pela praia em direção a Porto de Galinhas e, segundo os adolescentes que acompanhavam as meninas, este foi o último momento que o grupo de amigos viu as duas meninas com vida.

As duas acabaram perdendo a hora para voltar e chegaram a pedir carona em Porto de Galinhas para voltar até Maracaípe, porém como esperado, a lancha já havia partido sem a dupla.

Maria Eduarda e Tarsila voltaram para Porto de Galinhas e de lá, elas ligaram para Thiago para que ele fosse buscá-las, coisa que ele disse que não conseguiria fazer naquele momento. Se vendo sem muitas opções, as duas começaram a tentar pedir carona, conseguindo inclusive ir até o centro da cidade, onde era mais movimentado, com a ajuda de um conhecido, porém não conseguiram retornar a Serrambi. A última vez em que foram vistas foi em uma padaria e em um posto de gasolina ainda em Porto de Galinhas.

No dia seguinte a família entrou em contato com os amigos que contaram que as duas perderam o horário da lancha e que chegaram a procurar pela dupla enquanto ainda estavam na viagem, no entanto disseram não ter encontrado nada que pudesse dizer onde elas estavam. Thiago inclusive comentou com os familiares das jovens que chegou a procurar pelas duas após receber a ligação, entretanto não conseguiu encontrá-las, o que fez com que as famílias das duas entrassem em contato com a polícia, iniciando as buscas pelas adolescentes em Maracaípe.

Desde o início das buscas, coisas estranhas já estavam ao redor do caso, como o fato de que este estava classificado como duplo homicídio, mesmo sem nenhuma pista de que realmente as duas tenham sido de fato assassinadas.

Cerca de dez dias depois do desaparecimento das duas, no dia 13 de Maio, o empresário José Vieira, pai de Tarsila, decidiu que ele mesmo iria atrás da filha, já que a polícia não estava encontrando nada sobre a garota e a amiga.

Ele, na companhia de um amigo, foram até o local onde as duas foram vistas pela última vez em Porto de Galinhas, diferentemente da polícia que as procurava em Maracaípe e, foi nesse dia, em um canavial em Camela, no distrito de Ipojuca, que José Vieira encontrou os restos mortais da filha e da amiga. As duas se encontravam seminuas e em estado de decomposição avançado, quase não sendo possível reconhecê-las, além de se encontrarem baleadas.


Investigações do caso

Desde o início, as investigações foram feitas de forma errônea, já que a cena do crime foi contaminada por civis, carros que viviam passando pelo local e até mesmo pelos diversos policiais que passavam na cena do crime.

Durante as investigações conduzidas pela Polícia Civil, uma testemunha comunicou a polícia que viu as meninas entrarem em uma kombi com dois homens que trabalhavam fazendo lotação, homens estes que foram identificados como Marcelo e Valfrido Lira, conhecidos popularmente como “os irmãos kombeiros”.

No dia 18 de Maio de 2003, o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil prendeu os irmãos Marcelo e Valfrido Lira por terem supostamente assassinado Maria Eduarda e Tarsila.

Dentre as provas coletadas pela polícia, estavam objetos encontrados no local do crime e na kombi de Marcelo, como fios de cabelos semelhantes aos das vítimas, uma linha de nylon que foi encontrada nos dois lugares e uma lâmina de barbear, porém todas essas provas não eram fortes o suficiente, principalmente por não terem passado por nenhum teste e não ter sido encontrado a arma que disparou nas garotas. Até mesmo parentes das vítimas não tinham certeza de que essas provas eram fortes o suficiente para incriminar qualquer um dos dois.

No dia 16 de Junho de 2003, os irmãos kombeiro foram indiciados pelo crime mas, apenas quatro dias depois, o promotor de Ipojuca, Miguel Sales (falecido em 2014), devolveu o inquérito à polícia, alegando que alguns pontos não haviam sido esclarecidos. Os acusados alegaram que foram torturados para confessarem os crimes, inclusive um dos acusados comentou que foi levado até um matagal e chegou a ter uma arma apontada para si, o ameaçando para que assumisse a autoria do crime, no entanto, ele apenas respondeu com “Você pode me matar, mas eu não vou assumir um crime que eu não cometi”.

Em 18 de Julho de 2003, a Polícia Civil entregou o inquérito com as novas diligências exigidas por Sales mas, três dias após a entrega, os irmãos foram liberados após ter expirado o prazo de prisão temporária.

Miguel Sales chegou a pedir novas diligências cerca de três vezes, colocando em xeque as investigações que acabaram nas mãos da Polícia Federal em 13 de Dezembro de 2004, a pedido do Ministério Público e da SDS.

Após a Polícia Federal assumir as investigações, em 16 de Junho de 2005 o inquérito foi novamente concluído, apontando que os irmãos kombeiros eram os verdadeiros culpados pelo crime, porém a população pernambucana continuou dividida devido à diversos boatos de como as adolescentes haviam sido assassinadas.

Em 04 de Setembro de 2010, após cinco dias de júri popular, os jurados chegaram à decisão por quatro a três votos, de que os irmãos kombeiros eram inocentes das acusações. Um recurso especial chegou a ser impetrado pelo advogado Bruno Lacerda, que era representante dos pais de Tarsila, onde segundo ele, houve a presença de nulidade no júri, e por isso o mesmo deveria ser invalidado.

“Uma jurada se manifestou ao fim do júri, Ela cumprimentou um dos acusados e falou: ‘Eu não disse que ia dar certo?’. Isso demonstra parcialidade. Na realidade, esse voto foi decisivo, já que os réus foram absolvidos por quatro votos a três" — Argumentou Lacerda na época.

Outro ponto que o advogado levantou foi o de que o advogado que atuava na defesa dos kombeiros também havia atuado anteriormente como assistente de acusação deles.

O recurso foi analisado pela 1° Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), mas foi negado por unanimidade pelos desembargadores em 2015. Em 2018 o caso estava nas mãos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que novamente negou o pedido de um novo júri ao caso, seguindo assim com os irmãos em liberdade.


Erros no caso

Segundo a mãe de uma das vítimas, os corpos foram submetidos a um tratamento químico para mascarar indícios de drogas, semem e outros vestígios e, ainda segundo ela, destruíram cabelos, unhas e outros tecidos importantes, o que dificultava em achar qualquer indício de quem teria cometido o crime.

Até mesmo médicos da época afirmavam que o estado de decomposição dos corpos não era normal, já que o tempo não era tão longo para que o corpo das garotas estivesse naquele nível de decomposição, além de algumas partes dos corpos das garotas não estarem no mesmo nível de decomposição de outros mais avançados, o que indicava que alguém realmente teria feito algum tratamento químico para mascarar os indícios deixados nos corpos.

A própria testemunha que afirmou ter visto os irmãos kombeiros foi contestada pois, segundo a testemunha, ela se encontrava a 30 metros de onde as garotas estavam junto dos kombeiros durante à noite e, mesmo assim, conseguiu ver “com perfeição” quem era os dois homens que dirigiam a kombi.

Outro fato importante, é que uma testemunha disse ter ouvido garotas gritando de dor no dia da festa perto da casa de Thiago, porém a polícia nunca a chamou para depor oficialmente, o que intrigou a comunidade pernambucana.


Teoria envolvendo o caso

Uma das teorias que deixou a população insegura de quem seria o verdadeiro autor do crime, é a de que as duas meninas teriam sim voltado para a casa do amigo Thiago e, durante a estadia, as duas teriam ingerido muito álcool e drogas sob a influência de terceiros, sido abusadas sexualmente e, segundo a teoria, Maria Eduarda teria morrido por conta de uma possível overdose ou algo semelhante.

Assim, para não contar o que aconteceu com ela e com a amiga, os adolescentes envolvidos teriam assassinado Tarsila com tiros e atirado também em Maria Eduarda para forjar uma morte diferente da que realmente teria ocorrido.

Em seguida, os jovens teriam transportado os corpos das duas até o canavial e teriam as deixado por lá, onde usaram ácidos para tentar dissolver os corpos e sumir com qualquer indício do que realmente havia acontecido com elas, o que também seria o motivo da decomposição das duas estarem em estado avançado quando encontradas.

De fato, vários fatores contribuíram para deixar essa teoria mais forte, como o fato da polícia nunca ter chamado a testemunha que ouviu os gritos no dia da festa próximos a casa de Thiago para depor oficialmente; ou também o fato de, depois de exumar os corpos, terem descoberto que Maria Eduarda realmente já estava morta antes de levar os tiros e, por último mas não menos importante, nos dias seguintes após o crime, a casa, os carros, a lancha ou até mesmo os adolescentes não foram interrogados ou vistoriados pela polícia, apagando qualquer prova que pudesse se encontrar nos locais.


Uma infeliz conclusão

O caso foi oficialmente encerrado em dezembro de 2018 e até os dias de hoje, o assassinato de Maria e Tarsila seguem sem uma conclusão, deixando com que os culpados da morte das duas garotas continuem vivendo livremente sem nunca terem pagado por seus crimes.

Sendo os assassinos os irmãos kombeiros ou os adolescentes influentes, ou até mesmo alguma outra pessoa que nunca levantou indícios do que fez, este segue sem nunca pagar por seus atos, deixando as famílias das vítimas até os dias de hoje sem uma conclusão, e as vítimas sem sua história finalizada.


Fontes

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