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  • Foto do escritorSabrina M. Szcypula

O Monstro de Amstetten: O Cárcere Privado de Elisabeth Fritzl

Presa em cativeiro dos 17 até os 42 anos pelo próprio pai e forçada a ter relações sexuais, o caso de Elisabeth Fritzl chocou a Áustria em 2008.




O austríaco Josef Fritzl, mais conhecido como “Monstro de Amstetten”, foi o responsável pelo cárcere privado, agressões físicas e psicológicas, e mais de 3 mil estupros contínuos durante 24 anos contra a própria filha, Elisabeth Fritzl, de 1984 até 2008. O homem prendeu a garota em um bunker construído no porão de sua casa quando ela tinha apenas 17 anos, e ali a manteve até seus 42 anos de idade.


O monstro de Amstetten

Josef Fritzl nasceu no dia 8 de abril de 1935, na cidade de Amstetten, na Áustria, sendo filho de Maria e Josef Fritzl.

Por grande parte de sua vida, Josef morou apenas com a mãe, já que os pais se separaram quando ele tinha 4 anos de idade e seu pai nunca acompanhou seu crescimento. Muitos anos depois, ele descobriu que um dos motivos para esse sumiço foi o falecimento do homem durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944.

De acordo com relatos, a infância de Josef foi bem conturbada. Sua mãe tinha problemas psicológicos, não era afetiva com o filho, o criando severamente e com várias agressões, não permitia que ele recebesse visitas, e tinha o costume de deixá-lo sozinho por horas, fazendo a criança ir ficar com os vizinhos por conta própria se necessário. Apesar de tudo, Josef sempre falou com muita admiração sobre a mãe, a descrevendo como uma mulher forte, que se impunha e que lhe ensinou tudo sobre a vida.

Na escola ele era considerado um aluno exemplar, onde até mesmo um de seus professores chegou a descrevê-lo como um de seus alunos mais brilhantes em toda sua carreira.

Ao terminar o ensino médio, Fritzl iniciou a faculdade de engenharia. Em 1955, aos 20 anos, ele conheceu Rosemarie, que na época tinha apenas 16 anos, em um café local. Os dois iniciaram um namoro uma semana após se conhecerem e foram apoiados pela família de Rosemarie.

Os dois se casaram um ano após o início do relacionamento, e a partir desse momento Josef começou a controlar a vida da esposa. Segundo a irmã de Rosemarie, Josef controlava até o momento em que Rosemarie comia, sendo extremamente autoritário, não permitindo que ela trabalhasse ou saísse de casa em alguns momentos e não lhe dando acesso ao dinheiro que recebia.

O casal morou por um curto período na casa dos pais de Rosemarie devido a proximidade da residência com o trabalho de Josef, mas logo se mudaram. Desde o começo do casamento, Fritzl tinha o costume de sair do trabalho e parar na frente da casa de algumas pessoas apenas para observar a mulher da casa realizando suas tarefas domésticas.

Mesmo estando em um momento complicado do relacionamento, devido a autoridade que Josef exercia, assim como os costumes estranhos, em 1957 o casal teve sua primeira filha. Ao todo, os dois tiveram sete filhos: Ulrike, Harald, Elisabeth, Rosemarie, Josef Jr, Gabrielle e Doris Fritzl.

Em 1967, Josef foi preso por ter abusado sexualmente de uma mulher (nome não divulgado) que morava na região onde ele e a família viviam. Pelo seu crime, ele foi condenado a 18 meses de prisão, no entanto ficou na cadeia apenas por um ano. Mesmo após o ocorrido, Josef não mudou seus atos e tentou novamente abusar de outra mulher da região chamada Mary.

Segundo a vítima, ela estava voltando para sua casa após sair do trabalho, e enquanto procurava as chaves dentro da bolsa, foi abordada de surpresa por Josef. Mary ficou em estado de choque, sem conseguir se mover ou falar, o que foi o motivo de Josef não conseguir movê-la para outro lugar, resultando em sua desistência. Mesmo já tendo sido preso anteriormente e com uma segunda denúncia de tentativa de abuso nas costas, Rosemarie perdoou o marido e continuou casada com ele.


Elisabeth Fritzl

Elisabeth Fritzl nasceu no dia 8 de abril de 1966, e assim como a mãe, ela viveu toda a sua vida à mercê da autoridade e das vontades de seu pai, sendo obrigada a seguir todas as regras que o homem impunha à ela e a família.

A garota sempre foi descrita como alguém tímida e retraída, mas ainda assim uma jovem muito amável, divertida, e alguém com quem você poderia contar, segundo suas duas melhores amigas.

Durante sua infância, Elisabeth relatou que passou por diversas coisas horríveis nas mãos do pai, que tinha uma estranha fixação pela jovem. Josef costumava agredir a filha com bastante frequência, além de brigar com ela sem nenhum motivo e ter começado a abusar sexualmente de Elisabeth quando ela tinha apenas 11 anos de idade.


Um plano maligno

A família Fritzl tinha uma pousada usada para viagens durante o verão que acabou pegando fogo em 1982. Josef chegou a ser preso preventivamente pela desconfiança de que ele tenha causado o incêndio para conseguir o valor do seguro, mas como não havia provas, ele foi solto após 14 dias de confinamento e recebeu o seguro do imóvel.

No mesmo ano, usando o valor arrecadado, Josef começou uma grande reforma no porão da casa, no entanto sem permitir que alguém chegasse perto do local, afirmando que iriam lhe atrapalhar e que podiam se machucar.

No ano seguinte, Elisabeth fugiu com suas melhores amigas para Viena, capital da Áustria, mas foi encontrada pela polícia poucos dias depois e levada de volta para a casa. Essa não foi a única fuga de Elisabeth, então a polícia e a família “se acostumaram” com a “rebeldia” da garota.

Após a fuga, as coisas começaram a piorar para a jovem em sua casa. Josef lhe proibiu de sair de casa, a privando até mesmo da escola, e não permitia que Elisabeth recebesse visitas, alegando que ela era uma adolescente problemática e que tinha que fazer algo para “consertar” a filha.

Em 1984, as obras iniciadas dois anos antes foram finalizadas, e em agosto daquele mesmo ano Fritzl iniciou seu plano.

No dia 20 de agosto (fontes divergem com o dia 28), a família denunciou o desaparecimento de Elisabeth para a polícia. Como a adolescente já tinha um histórico de fuga, a polícia apenas supôs que este era mais um episódio de rebeldia da garota, mas começaram com as buscas de qualquer maneira. Não havia nenhuma pista de para onde Elisabeth poderia ter ido ou o que teria acontecido, então a polícia apenas podia aguardar qualquer contato da jovem, seu retorno, ou alguma prova do que poderia ter acontecido.

O que ninguém sabia é que pouco mais cedo naquele dia, Josef solicitou que a filha lhe ajudasse a colocar uma porta na adega da casa que ficava dentro do porão. Enquanto a garota segurava a porta, Josef aproveitou para deixá-la atordoada com éter, uma função orgânica usada na medicina como anestésico para que ela não reagisse, lhe acorrentou e a prendeu dentro desse cômodo.

Josef construiu dentro do porão um bunker de 60 m² e 1,70 metros de altura, com muitas portas até que chegasse de fato ao local. Segundo fontes, tinha em torno de 5 a 8 portas trancadas com cadeado antes de realmente acessar o cômodo, e a primeira porta, acessada pelo porão, era com fechadura eletrônica e escondida por uma estante. Além do difícil acesso, o local tinha isolamento acústico, o que impedia que qualquer pessoa escutasse qualquer coisa que ocorria lá dentro.


24 anos dentro do inferno

Elisabeth ficou presa dentro do local durante 24 anos, onde passou por diversas agressões físicas e verbais, foi abusada sexualmente mais de 3 mil vezes, segundo o próprio Josef, e acabou tendo sete filhos frutos desse abuso recorrente. Infelizmente, um dos filhos de Elisabeth que era gêmeo, fruto da quarta gestação faleceu dias após seu nascimento pois tinha um problema respiratório e Josef não quis levá-lo ao hospital. Para se livrar do corpo, Josef incinerou o cadáver do bebê.

Inicialmente, Josef manteve a filha acorrentada dentro do “quartinho” e lhe estuprava em troca de comida. Depois, ele passou a permitir que ela tivesse mais mobilidade dentro do cativeiro, que teve ampliações durante os anos para conseguir manter a jovem e seus filhos, incluindo acesso, por exemplo, a uma TV.

Todos os dias, às 9h da manhã, Josef ia até o porão, dando a desculpa de que estava trabalhando em algumas máquinas que fazia para vender, e como ninguém tinha acesso liberado ao porão, apenas acreditavam em sua palavra. Ele também costumava levar um pouco de comida, mas como realmente era muito pouco, a alimentação de Elisabeth e de seus filhos era precária.

Como ainda havia pessoas que estavam preocupadas e a procura de Elisabeth, Josef mandou a garota escrever uma carta que ele deixou em frente a sua casa para ser encontrada por Rosemarie, onde Elisabeth afirmava que havia fugido, que tinha feito isso para viver a própria vida e não desejava que ficassem atrás dela, assim como também comentava que estava envolvida com uma espécie de seita e que estava bem. Após a família ler a carta, Josef também a levou até a polícia, fazendo assim com que o caso de Elisabeth esfria-se completamente.

Outras cartas acabavam por ser enviadas periodicamente, na intenção de fazer as pessoas ficarem cada vez menos preocupadas e realmente aceitarem que Elisabeth tinha fugido, o que de fato aconteceu.

Enquanto Elisabeth vivia no porão, a família começou a alugar alguns cômodos da casa para gerar renda extra, mas obviamente todos tinham que seguir as regras que foram estipuladas por Josef para não serem despejados, incluindo chegar perto do porão. Um dos inquilinos tinha um cachorro que periodicamente começava a latir para um canto específico do quintal e tentava cavar o chão. Ninguém entendia exatamente o motivo para tal ato, no entanto esse local era exatamente onde Elisabeth se encontrava trancada a seis metros abaixo do chão. Outro inquilino, Alfred Dubanocsky, afirmou em depoimento que chegou a ouvir sons vindos do porão, mas Josef apenas assegurava que se tratava do sistema de aquecimento de gás.

Dentre os filhos que Elisabeth teve com o pai, três deles foram deixados na porta da casa da família para serem criados por ele e pela esposa. Em 1993 a primeira bebê foi deixada com apenas 9 meses juntamente de uma carta escrita por Elisabeth. Nessa carta a garota dizia que o nome de sua filha era Lisa, mas como não tinha condições de criá-la, ela pedia aos pais para o fazer.

Josef procurou pela polícia e pela assistência social para explicar a situação, fazendo com que ele e Rosemarie conseguissem a guarda de Lisa por sua mãe ter “entregado” o bebê aos pais devido a não ter condições. Após Lisa, Monika e Alexander respectivamente também foram deixados na porta da casa dos Fritzl com uma carta, onde novamente Elisabeth solicitava que os pais criassem seus filhos. Alexander inclusive era o gêmeo de Michael, a criança que faleceu dias após o nascimento.

Por mais que tenha tido seis partos, Elisabeth teve outras gestações interrompidas no período em que esteve em cárcere privado. As crianças que permaneceram com ela dentro do porão foram Kerstin, Stefan e Felix Fritzl, sendo Kerstin e Stefan os dois mais velhos, respectivamente, e Felix o mais novo entre todos os filhos. Elisabeth tentou da melhor maneira criar os filhos e lhes educar, os ensinando a ler e mostrando através de fotos e pela TV como o mundo era fora do porão.


Momento de liberdade

Em março de 2008, a filha mais velha, Kestin, adoeceu gravemente e precisou ser levada ao hospital com urgência. Elisabeth implorou para que Josef levasse a menina até o médico, e assim ele fez, por mais que antes tenha solicitado que ela escrevesse mais uma carta para fingir que estava “tudo bem”.

Josef deixou a jovem no hospital junto com a carta e foi embora sem acompanhá-la, deixando Kestin à própria sorte. Assim que os médicos viram a situação da garota, eles contataram a polícia, mas ela não conseguia se comunicar direito, o que fez a polícia começar a procurar sua família.

Elisabeth insistiu por dias para ser levada até o hospital para acompanhar a filha, e após um bom tempo, em abril, ela conseguiu convencer Josef a permitir sua saída. Já no hospital, a polícia novamente foi acionada, e após conseguir a garantia policial de que seria protegida, já que os policiais observaram como Elisabeth estava com vários sinais de abuso, ela contou às autoridades tudo que aconteceu consigo e os filhos durante os 24 anos de cárcere.

Após a denúncia, a polícia foi até a residência dos Fritzl e resgataram os filhos que ainda estavam dentro do porão para que tivessem o devido atendimento médico, assim como prenderam Josef por seus crimes.

Quando Rosemarie descobriu tudo que aconteceu ela decidiu trocar de nome e sumir, por mais que a filha tenha explicado que a mãe não tinha nenhuma relação com o que aconteceu consigo.


Julgamento

Durante o julgamento de Josef, Elisabeth não foi ao tribunal por não conseguir e nem querer ver o pai. Ela detalhou tudo o que aconteceu consigo durante seus depoimentos e refrisou todos os acontecimentos em um vídeo de 11 horas para ser transmitido no julgamento.

Por mais que tenha tido resistência inicialmente, Fritzl confessou todos os seus crimes, fazendo com que assim, após todo o julgamento, fosse condenado no dia 19 de março de 2009 à prisão perpétua pelos crimes de sequestro, estupro, homicídio por negligência (pelo filho que faleceu), incesto e outros crimes.

Na tentativa de tentar abaixar a pena, Josef tentou argumentar que tudo que ocorria entre ele e a filha foi com o consentimento dela, mas ninguém acreditou em sua história.


Conclusão

Depois da prisão de Josef, Elisabeth e os filhos receberam novas identidades e tratamento psicológico para enfrentar o que havia acontecido durante os anos em que se mantiveram dentro do bunker.

A adaptação das crianças foi algo complicado, já que nunca tiveram contato com o mundo ou com outras pessoas, além de tudo que presenciaram durante a vida, mas com ajuda profissional, aos poucos eles acabaram se adaptando.

Atualmente Elisabeth e os filhos moram em um local afastado denominado apenas como “Vilarejo X”, evitando a mídia ao máximo pois não queriam voltar a falar sobre o que passaram durante aqueles anos.

Em março de 2019, o jornal austríaco Österreich informou que Josef, agora com 83 anos, continuava preso na Penitenciária de Stein e estava sofrendo de demência. De acordo com os funcionários da prisão, Josef sempre está sozinho por ser evitado por outros detentos, e uma informação vazada foi a de que ele tinha mudado seu sobrenome para Mayrhoff com o objetivo de não ser reconhecido.

Pela lei da Áustria, Josef pode ter sua pena revista em 2024, após 15 anos de seu julgamento. No entanto, para isso ocorrer será necessário um parecer psicológico atestando que é viável reinseri-lo na sociedade.


Fontes


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