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Black Dahlia: Um Sonho Interrompido

  • Foto do escritor: Sabrina M. Szcypula
    Sabrina M. Szcypula
  • 17 de mai. de 2023
  • 8 min de leitura



Quem era Elizabeth Short

Elizabeth Short (24 de Julho de 1924 em Hyde Park, próximo de Boston, Massachusetts - 15 de Janeiro de 1947 em Los Angeles, Califórnia), mais conhecida popularmente como Dália Negra (Black Dahlia) foi uma aspirante a atriz estadunidense que estava a procura de seguir seu sonho de se tornar uma pessoa famosa na carreira cinematográfica, mas que teve a infelicidade de ter encontrado seu fim macabro em 1947.

O caso ficou popularmente conhecido como Black Dahlia após o jornal L.A. Herald Express começar a chamar a jovem assim, associando-a ao filme Blue Dahlia, lançado no ano anterior e com algumas semelhanças ao caso de Elizabeth.

Até os dias atuais, o assassinato de Elizabeth é um grande mistério para a polícia estadunidense, não possuindo nenhum motivo aparente para tamanha brutalidade e nem uma pessoa para responder pelo homicídio de Short.


Antes da tragédia

Elizabeth cresceu e viveu em Melford, sendo a terceira filha de cinco do casal Cleo Short e Mae Phoebe Sawyer. Seu pai (Cleo) construiu uma pequena área de golfe onde oferecia cursos para seus clientes, porém durante a queda da bolsa de valores estadunidense em 1929 o homem perdeu grande parte dos bens da família, fato que deixou Cleo em grande desespero e sua família à mercê.

Em 1930 em um ato de desespero, Cleo estacionou seu carro sobre uma ponte e desapareceu sem deixar nenhum indício, o que levou todos a acreditar que o homem havia cometido suicídio pela perda de seu patrimônio, achado esse que logo se comprovou errôneo já que mais tarde foi descoberto que na verdade Cleo estava vivo e morando na Califórnia.

Por achar que o marido havia se suicidado por conta de todos os problemas que a família estava enfrentando, a mãe de Elizabeth decidiu levar a família para um apartamento menor em Medford, onde ela conseguiu um emprego como contadora e, mais tarde, como balconista em uma padaria, porém grande parte do dinheiro que sustentava a família vinha da assistência do governo.

Aos 16 anos, Elizabeth foi enviada para Miami para passar o inverno devido às preocupações de sua mãe com a asma e a bronquite que a adolescente possuía. Ela continuou assim pelos próximos três anos, passando os meses de inverno em Miami e o resto do ano em Medford. Aos 19 anos, ela viajou para Vallejo na Califórnia para viver com seu pai, que trabalhava próximo ao estaleiro naval de Mare Island em San Francisco Bay.

No início de 1943, Elizabeth e seu pai se mudaram para Los Angeles, entretanto as diversas brigas de família resultaram na saída de Elizabeth da cidade para procurar trabalho em Camp Cooke (Atual Vandenberg Air Force Base) perto de Lompoc, na Califórnia. Posteriormente, Elizabeth se mudou para Santa Bárbara, onde foi presa em 23 de setembro de 1943 por oferecer bebida alcoólica para um menor de idade.

Após sua prisão, Short retorna para Medford com as autoridades juvenis, mas assim que é definitivamente libertada, ela retorna para a Flórida.

Em abril de 1944, Elizabeth estava trabalhando em um hotel em Miami Beach, onde conheceu o tenente Josef Gordon Fickling, os dois iniciaram um namoro que não durou muito tempo já que o tenente em questão foi enviado para o front de combate pois o mundo estava passando pela Segunda Guerra Mundial.

Short então voltou para Medford para as festividades de Ação de Graças e em dezembro, retornou a Miami. Foi nessa época que ela conheceu o Major Matthew Michael Gordon Jr., um condecorado oficial das Forças Aéreas do Exército dos Estados Unidos.

Elizabeth contou aos amigos que chegou até mesmo a ficar noiva de Gordon, porém infelizmente o homem acabou falecendo em um acidente de avião em 10 de Agosto de 1945 antes que ele pudesse voltar aos EUA para realizar o matrimônio, talvez devido ao trauma causado pela sua morte, Elizabeth inventou a história de que ela e Gordon casaram-se e tiveram um filho, mas que este infelizmente faleceu.

Seis meses antes de sua morte, Elizabeth permaneceu no sul da Califórnia, principalmente na área de Los Angeles e lá, ela trabalhou com pessoas envolvidas com produções de Hollywood, tentando se tornar uma atriz.


O crime que chocou os EUA

Em 15 de Janeiro de 1947, a dona de casa Betty Bersinger passeava naquele início daquela manhã fria a pé com sua filha de apenas 3 anos quando avistou o cadáver que, a princípio, ela acreditava se tratar de um manequim de loja descartado em uma valeta de uma obra de um condomínio a poucos metros da calçada, do lado oeste da Avenida Norton Sul, entre o Coliseum Street e a West 39th Street. Ao se aproximar e constatar que, na verdade, se tratava de um corpo mutilado, Betty tapou os olhos da filha e acionou a polícia imediatamente.

Elizabeth foi morta por razões que, até os dias de hoje, continuam sendo desconhecidas, quando os policiais encontraram seu corpo, ela estava nua e cortada ao meio. O corpo de Elizabeth estava deitado de costas, com os braços levantados acima dos ombros, as pernas abertas e vários cortes e machucados espalhados em seu corpo, seus intestinos foram posicionados por baixo de suas nádegas e seus punhos, tornozelos e pescoço tinham lacerações bem aparente, além deles, sua boca continha um corte enorme de um sorriso, que literalmente puxava de orelha a orelha.

A causa da morte foi em decorrência de hemorragia, resultante das lacerações e inúmeras lesões no crânio, embora este não estivesse fraturado. O corpo de Short foi abandonado não em uma tentativa de ocultação, mas sim em uma demonstração sádica de auto-afirmação do assassino, apresentando inúmeras lesões desnecessárias. Não havia fluido seminal no corpo e a maior parte dos ferimentos parecia ter sido feita após sua morte. Outro fato que o legista observou, era o de que haviam vestígios de fezes humanas em seu estômago.


Investigações sobre o caso

A última vez que Elizabeth havia sido vista com vida foi em 9 de Janeiro e ninguém conseguiu dizer com exatidão quando a mulher foi morta, apenas que havia sido entre os dias 14 e 15 de Janeiro, que foi quando seu corpo foi encontrado.

Durante as investigações, foi concluído que a jovem foi amarrada e torturada por vários dias antes de ser morta e só depois disso, seu corpo foi levado para o terreno onde Betty a encontrou e abandonado no local.

Os maiores indícios de que Elizabeth não morreu no terreno, fora que não havia nenhum sangue no corpo da vítima e muito menos no local encontrado, também havia marcas na região dos calcanhares de Elizabeth, o que indicava que alguém havia carregado o corpo. No local em que o corpo foi encontrado, havia algumas marcas de pneus bem próximas de onde Elizabeth estava - está, inclusive, sendo uma das poucas evidências materiais concretas que a polícia possuía - que indicavam que alguém poderia tê-la abandonado lá a pouco tempo.

Foi encontrado também, a pouco metros do cadáver, um saco de cimento vazio com sangue aguado dentro, mas nada que indicasse quem havia cometido o crime.

O suposto assassino chegou a entrar em contato com a mídia no dia 23 de Janeiro, confessando a autoria do homicídio, dizendo que “vou me entregar, mas primeiro quero que a polícia me procure mais um pouco!”, também informou que enviaria objetos pessoais de Short pelo correio. No dia seguinte, um pacote chegou ao prédio do Los Angeles Examiner, contendo fotografias, cartões de visitas e um caderno com mais de 70 nomes de admiradores de Elizabeth. Dentre estes nomes, o nome de Mark Hansen estava em destaque na capa e por conta disso ele se tornou um dos principais suspeitos.

No dia 25 de Janeiro, peritos encontraram em uma lata de lixo próximo ao local do crime a bolsa de couro e um par de sapatos pertencente a Elizabeth.

As autoridades investigaram oficialmente mais de 20 pessoas que poderiam ser suspeitas do crime mas, infelizmente, nenhum dos suspeitos era comprovadamente o assassino em questão.


A mídia

Por conta da brutalidade que o crime possuía, a polícia de Los Angeles solicitou ajuda estadual e federal para poderem solucionar o caso. Diversas fotos foram tiradas e divulgadas pela mídia, que tratou as investigações como se fosse um grande tabloide.

O nome Dália Negra lhe foi dado pela mídia, em específico por Bevo Means, um repórter do L.A. Herald Express devido ao filme Blue Dahlia, lançado no ano anterior que conta a trama de um assassinato misterioso muito parecido com o caso de Elizabeth.

O Herald Express recebeu milhares de denúncias e dicas anônimas sobre o caso, a grande cobertura que fizeram fez com que 59 pessoas confessassem o crime apenas para que pudessem ganhar fama em cima da história, todas as confissões, no entanto, foram descartadas.

Como o caso ganhou publicidade em grandes proporções e nenhum suspeito foi identificado, os detetives mergulharam nos detalhes da vida da vítima para rastrear o assassino e resultante a tantos detalhes da vida de Short, o sensacionalismo sem precedentes na mídia se focou em uma tentativa de culpar a vítima por sua “conduta inapropriada”.

O sensacionalismo era tão denso em cima do caso que também forçou ligações com outros casos brutais famosos, como as vítimas de Willian Hereins, o Assassino do Batom. Porém nem os locais de ação e nem mesmo os perfis das vítimas eram compatíveis.


Principais Suspeitos

Por conta das condições em que o corpo de Elizabeth se encontrava, a polícia suspeitava que o assassino tinha formação em medicina mas, obviamente, nunca conseguiram comprovar quem teria o feito.

Os principais suspeitos apontados pela polícia foram Robert “Red” Manley, que foi a última pessoa a ver Short com vida. Robert tinha histórico de transtornos mentais, o que fazia com que a polícia tivesse ainda mais interesse em apontá-lo como suspeito, porém Robert foi liberado após passar pelo teste do polígrafo e apresentar um álibi consistente.

Mark Hansen também foi um dos principais suspeitos da polícia, ele era dono da boate Florentine Gardem onde Short se hospedou por um tempo, também era dono de diversas salas de cinema e de um cassino clandestino. Ele se tornou suspeito após o pacote com objetos de Elizabeth para o jornal.

O Assassino do Torso de Cleveland também foi cogitado como suspeito, isso ocorreu por conta das semelhanças entre a assinatura do assassino em série e os cortes provocados no corpo de Elizabeth, o principal suspeito de ser o assassino era Jack Anderson Wilson, porém este morreu em um incêndio misterioso em 1982.

George Hondel foi um médico - especializado em doenças sexualmente transmissíveis - acusado de molestar sua filha de 14 anos em outubro de 1949. Ele foi considerado um suspeito e posto sob vigilância por um tempo, incluindo câmeras escondidas em sua casa, porém nada o ligou ao caso.


Principal teoria

Em seu livro Black Dahlia, Red Rose, a pesquisadora e escritora Piu Eatwell afirma que o homicídio foi cometido por Leslie Dillon, em um crime encomendado por Mark Hansen, que até mesmo foi considerado suspeito mas que no final, a polícia acabou deixando Mark de escanteio.

Em seu livro, a autora explica sobre a relação que Elizabeth possuía com Hansen e como Leslie Dillon, um homem que trabalhava com Hansen, sabia de detalhes sobre o crime que apenas um assassino poderia saber

Outro ponto que ela levanta são sobre os ferimentos de Elizabeth que sugerem a prática de necrofilia e um fetichismo com facas, além do conhecimento prévio médico ou com manuseio de cadáveres em um necrotério, o que Dillon por sua vez, já fez anteriormente.


“Eram as marcas de um assassino sádico e de luxúria… especulou-se que ele ou tinha treinamento médico ou experiência com o manuseio de cadáveres em um necrotério – e um evidente fascínio pela morte” — afirma Eatwell.


Mesmo com todos estes indícios, Leslie Dillon nunca chegou a ser formalmente indiciado pela polícia. Em 1949 o departamento de polícia estava enfrentando diversas acusações de corrupção, situação que interferiu diretamente no caso de Short. Segundo a escritora, o departamento verdadeiramente encobriu a participação indireta de Mark Hansen.

Dillon até mesmo disse à polícia em um interrogatório que não diria uma palavra a eles se lhes deixassem ir, mas que se este fosse preso iria revelar onde estavam os corpos enterrados pelo crime organizado, mesmo assim Dillon foi liberado pelos investigadores.


Conclusão

O caso, mesmo com toda a atenção massiva da mídia - que no final das contas acabou por atrapalhar em diversos níveis durante a procura pelo assassino - e uma investigação que teve auxílio de autoridades federais, foi fechado em 1950 e segue sendo um grande mistério para o mundo, já que o responsável pelo crime nunca foi descoberto.

Inúmeros livros e filmes foram lançados sobre o caso, mas o seu desfecho segue sendo um grande mistério para a polícia dos EUA.


Citada na cultura pop

  • The Black Dahlia (livro por James Ellroy)

  • The Black Dahlia (filme por Brian de Palma)

  • L.A. Noire (jogo com referência ao assassinato)

  • American Horror Story (seriado americano no qual Elizabeth aparece em duas temporadas)


Fontes

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