Um Verdadeiro Horror em Amityville
- Sabrina M. Szcypula
- 29 de mai. de 2023
- 9 min de leitura

O caso de Amityville é considerado o mais famoso envolvendo casas mal-assombradas no mundo, possuindo diversos filmes, livros, documentários e reportagens sobre todos os ocorridos dentro da casa. Entretanto, acima de qualquer suposta manifestação de assombração, o caso de Amityville é principalmente sobre um massacre de uma família.
— Família DeFeo
A família DeFeo era uma família rica estadunidense, composta por sete integrantes, sendo eles o patriarca Ronald DeFeo, a matriarca Louise DeFeo e seus filhos Ronald Joseph DeFeo Jr, filho primogênito de 23 anos na época e considerado o terceiro adulto da família, Dawn DeFeo, de 18 anos, Allison de 13 anos, Marc de 12 anos e John Matthew de apenas 8 anos.
A família DeFeo morava na casa de número 112 da Ocean Avenue, em Amityville, Long Island, em New York, sendo este o palco do massacre familiar mais marcante dos Estados Unidos por conta de todas as teorias envolvendo o sobrenatural.
— Ronald DeFeo
Desde quando era muito novo, Ronald Jr. (apelidado de Butch ou Ron) sofreu divergentes abusos por parte de seu pai, o homem costumavam ser muito rígido e violento com os filhos e com sua esposa, e como Ronald era o filho mais velho, este teve a infelicidade de passar por toda a violência do patriarca com mais intensidade do que os irmãos, o que acarretou em sua juventude problemática e o desenvolvimento de problemas de personalidade.
Depois de realmente constatar que o filho desenvolveu transtornos psicológicos, para conseguir lidar com a situação do primogênito, os pais de Butch tentavam compensá-lo com bens materiais, como presentes, por exemplo, ou até mesmo dinheiro, chegando ao ponto de presentear o menino com uma lancha em seu aniversário de 14 anos. Acostumado a receber dinheiro, ele pegou o hábito de roubar os próprios pais quando não ganhava o que queria.
Quando tinha 17 anos, Butch foi expulso de sua escola após repetidos episódios de agressão terem acontecido e ele ter sido flagrado usando drogas no ambiente escolar, sendo inclusive usuário de LSD e heroína.
Antes de tudo realmente acontecer, Ronald já havia demonstrado muitas vezes que tinha um lado mais agressivo, no entanto o ocorrido mais marcante de sua violência foi em uma das frequentes brigas em casa com seu pai, onde ele pegou uma espingarda e apontou para o rosto de homem e verdadeiramente tentou atirar nele, no entanto por conta da arma não ter munição, nada mais grave ocorreu.
— O Crime
Na noite do dia 13 de novembro de 1974, por volta das 02h às 03h da madrugada, Ronald Jr se armou com um rifle e assassinou todos os integrantes de sua família, os baleando a sangue frio enquanto dormiam. Ronald, o pai, e Louise, levaram dois tiros cada um, enquanto os quatro filhos do casal foram assassinados com apenas um disparo.
Depois de realizar o massacre, Ronald se dirigiu até o bar Henry’s, próximo de sua casa, alegando que seus pais haviam sido baleados por alguém desconhecido e que os dois estavam mortos. Ao saber do ocorrido, o bartender do bar ligou para a polícia enquanto Ronald voltava para casa junto de um grupo de pessoas que estavam no estabelecimento, que o acompanharam até sua casa e permaneceram em frente ao local junto de Butch para esperar pela polícia.
Não demorou muito e a polícia já estava no local, se deparando não só com a morte dos pais de Ronald, mas também com seus irmãos mais novos. Todos os integrantes da família estavam de bruços em suas camas, aparentemente dormindo quando todo o crime aconteceu.
Butch foi levado pela polícia para a delegacia, não só para prestar depoimentos mas também para sua proteção, já que até o momento, todos pensavam que o crime tinha sido cometido por alguém de fora que poderia querer matar Ronald em seguida, mas enquanto Ronald era levado para a delegacia, a polícia começou com as investigações dentro da casa, e nesse meio tempo, encontraram duas caixas de rifles vazias no quarto de Butch, o que levantou a suspeita de que talvez ele não fosse uma vítima.
Durante o interrogatório, Ronald mudava sua versão dos fatos diversas vezes, apresentando várias inconsistências a todo momento, mas inicialmente insistindo em alegar que não tinha nenhum envolvimento com a morte dos familiares e que o caso deveria ter algum envolvimento da máfia. Mesmo tentando esconder a verdade, acabou que no dia seguinte, Butch confessou a autoria do crime.
Em meio a sua confissão, Ronald chegou até mesmo a afirmar que “Quando comecei, não consegui mais parar. Foi tudo tão rápido…”. Segundo Butch, ele acordou às 02h da madrugada, pegou o rifle e seguiu primeiramente até o quarto dos pais, onde atirou primeiro em seu pai e em seguida em sua mãe, após isso ele foi até o quarto de cada um de seus irmãos, começando por Allison, depois Marc e John, e por último Dawn, onde atirou em cada um deles, ele até mesmo comentou em uma de suas versões que Dawn chegou a acordar e questioná-lo se estava tudo bem, no entanto não há nenhuma indicação de que Dawn tenha realmente acordado por conta de sua posição. Após o assassinato da família, ele tomou um banho, livrou-se das roupas ensanguentadas as jogando em uma vala e da arma do crime, que foi descartada na baia de Amityville e fingiu que não tinha nenhum envolvimento com o acontecimento.
Tanto as roupas de Ronald quanto a arma foram encontradas pela polícia no dia seguinte após a confissão.
Segundo a autópsia, realmente o Sr. Ronald foi o primeiro a morrer, ainda dormindo, seguido de Louise que levou dois tiros no peito. Allison, Marc e Dawn morreram na hora, no entanto o irmão mais novo, John ainda agonizou por alguns minutos antes de vir a óbito.
— O Julgamento
O julgamento começou no dia 14 de outubro de 1975, onde Ronald, juntamente de seu advogado, montaram a defesa de que Butch sofria de insanidade e ouvia vozes lhe mandando matar sua família. Um psiquiatra chegou a avaliá-lo para comprovar se o que a defesa afirmava era de fato concreto e constatou que DeFeo verdadeiramente sofria com transtorno de personalidade antissocial, além de ser usuário de LSD e heroína. No entanto, o especialista garantiu que Ronald sabia o que estava fazendo quando matou sua família.
O juiz responsável pelo caso, Thomas Stark, chegou até mesmo a afirmar em dado momento que “O testemunho do acusado de que ele não atirou e matou os membros de sua família é improvável e não merece crença”, referindo-se às diversas versões que Butch deu à polícia em interrogatórios, mais especificamente sobre a versão onde sua irmã Dawn era a verdadeira assassina da família e que ele apenas havia a parado. Ronald DeFeo Jr. foi declarado culpado por seis homicídios, condenado a seis penas consecutivas de 25 anos cada no dia 4 de dezembro de 1975, cumprindo sua pena na prisão de segurança máxima Sullivan Correctional Facility, na cidade de Fallsburg, Nova York, até o momento de sua morte no dia 21 de março de 2021.
— Versão de Ronald culpando a irmã
Em uma das várias versões que Butch contou a polícia, Ronald atribuiu uma grande parcela de culpa a sua irmã mais nova, Dawn. Segundo ele, Dawn também sofria com a violência do pai e, assim como ele, tinha muita raiva do homem, mas que o estopim foi quando o Sr. Ronald não tinha deixado ela viajar para se encontrar com seu namorado e ela decidiu cometer o crime.
Ronald relatou que na véspera do crime, os dois irmãos beberam e usaram drogas com outros amigos quando a ideia de realizar o assassinato surgiu, comentando ainda que os dois amigos que estavam com eles naquele momento também concordaram em participar do massacre. Enquanto um de seus colegas ficava de guarda, os dois e o segundo amigo mataram Ronald e Louise.
Finaliza que nesse suposto plano com a irmã, seus irmãos não seriam machucados, mas durante a ação, o amigo que estava com os dois dentro da casa decidiu fugir e, enquanto Ronald ia atrás dele, sua irmã Dawn decidiu matar os irmãos para eliminar qualquer testemunha. Assim que ele retornou para casa e viu o que aconteceu, ele discutiu com a irmã e os dois brigaram pela arma, em meio a essa briga sua irmã desmaiou e ele a colocou na cama e matou a garota.
Obviamente a afirmação de Butch foi contestada por especialistas, que apresentavam evidências de que as vítimas não tinham nenhum sinal de luta, entretanto as pólvoras nas roupas da Dawn podiam demonstrar sim que ela havia utilizado o rifle, mas a polícia escolheu não seguir com as investigações do possível envolvimento da jovem, além do fato de nunca terem encontrado esses dois colegas citados por Ronald.
— Teorias de Assombrações
Vários detalhes estranhos sobre o caso acabaram trazendo esse lado mal assombrado para a história, sendo um deles o fato de que praticamente todas as vítimas continuaram dormindo mesmo com o barulho dos tiros um em seguida do outro, não foi encontrado nenhum sedativo no organismo das vítimas para justificar esse sono profundo e nem mesmo um sinal de luta, o que atraiu ainda mais a atenção já que realmente demonstrava que ninguém acordou, fazendo até mesmo ser considerado que Butch não agiu sozinho, mas essa hipótese foi descartada.
A arma de Ronald nem mesmo possuía silenciador para tentar justificar esse fato, e não só a família não acordou, como nem mesmo os vizinhos relataram ter ouvido qualquer barulho de tiro, mesmo que tenham sido vários e tendo até mesmo um bom intervalo de tempo entre cada um, já que Ronald ia de quarto em quarto para continuar com o massacre.
Outro ponto que acabou chamando a atenção para essa suposta história de que a casa era assombrada foi o fato de Ronald comentar das diversas vozes demoníacas que ouvia lhe mandando assassinar toda a sua família, chegando até mesmo a afirmar que foi possuído por um demônio na noite do crime.
Mas o que realmente fez essa teoria de assombração na casa se concretizar no imaginário do público foi a história da família Lutz, composta por George e Kathy Lutz e os três filhos de Kathy de um casamento anterior, Daniel, de 9 anos, Christopher, de 7 anos e Melissa, de 5 anos, que compraram a residência um ano após todo o ocorrido por um preço muito abaixo do que o local realmente valia por conta de todo o crime.
Segundo relatos, a família inicialmente ignorou o histórico do local, já que o preço estava ótimo para uma casa daquele tamanho e eles não pensavam que o incidente anterior iria de fato interferir em suas vidas, apenas antes de realizar a mudança, eles decidiram levar um padre para abençoar a casa, ainda há a suposição de que o padre ouviu vozes na casa que mandavam ele não se meter na situação.
A família relata que, enquanto moravam na residência, costumavam ouvir diversas vozes de espíritos, visto aparições, lodos estranhos aparecendo pelo local, enxames de moscas dentro dos cômodos, portas e janelas que abriam e fechavam sozinhas o tempo todo, crucifixos invertidos, sons de tiros e até mesmo mãos invisíveis que arranharam não só as paredes mas à eles também, além de outros vários ocorridos, George até mesmo contou que acordava todas as madrugadas no mesmo horário em que Ronald cometeu os assassinatos, enquanto Kathy era atormentada por pesadelos de todas as mortes que ocorreram na casa.
Um dos pontos mais assustadores de seus relatos é o amigo imaginário de Melissa (Missy), chamado Jodie, que de acordo com os desenhos feitos pela menina, era uma criatura que tinha cabeça de porco e olhos vermelhos e brilhantes.
Por conta de todos os ocorridos que os Lutz relataram, o casal e seus três filhos ficaram na residência por menos de um mês (28 dias para ser mais exato), abandonando a casa e afirmando para todos que ela realmente era mal-assombrada.
Depois de terem abandonado a casa, o casal chamou o escritor Jay Anson para relatar absolutamente todas as suas experiências paranormais dentro do lugar, esse livro foi publicado em 1979, intitulado de “The Amityville Horror” e foi um grande sucesso, tendo mais de 3 milhões de cópias vendidas. Exatamente por toda essa fama que foi gerada não só com o livro mas também com diversas palestras das quais a família participava, os Lutz começaram a ser considerados farsantes, que se aproveitaram da fama da casa para ganhar dinheiro com uma história inventada, principalmente após outra família se mudar para a residência e relatar que nunca viram nada anormal.
Com tamanha repercussão, o casal Ed e Lorraine Warren decidiram investigar a casa para descobrir se tudo que os Lutz relataram era mesmo real e, segundo eles, a casa realmente é mal-assombrada, tendo até mesmo tirado várias fotos enquanto realizavam essa visita e, em uma delas, aparece a imagem de um menino que não estava presente na hora em que a foto foi tirada.
Anos mais tarde, o advogado de Ronald Jr. assumiu que toda a história que os Lutz contaram durante todos aqueles anos foi algo armado entre ele e o casal, e que as crianças repassaram que toda a situação realmente aconteceu por conta da síndrome de falsas memórias, mas ainda há quem verdadeiramente acredite que a casa possua alguma força sobrenatural.
Comments