Liana Friedenbach e Felipe Caffé: Um Brutal Caso Brasileiro
- Sabrina M. Szcypula
- 27 de mai. de 2023
- 5 min de leitura

Liana e Felipe
Liana Bei Friedenbach (6 de Maio de 1987 - 5 de Novembro de 2003) e Felipe Silva Caffé (1 de Julho de 1984 - 2 de Novembro de 2003) eram um casal de adolescentes de classe média alta de São Paulo que, enquanto acampavam nos terrenos de um sítio abandonado no município de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, foram rendidos por quatro homens e um adolescente e mortos após dias de tortura e sofrimento.
De encontro com o fim
O que era para ser um acampamento romântico e secreto do casal, rapidamente tornou-se o fim trágico de Liana e Felipe.
Como o namoro da dupla era algo recente, tendo em torno de dois meses, assim que a ideia de acampar surgiu, Liana decidiu optar por omitir com quem realmente estava viajando para seus pais, com medo de que estes não lhe dessem uma autorização para realizar a viagem. Sendo assim, ela havia comentado aos pais que iria fazer uma viagem para Ilhabela com um grupo de amigos da comunidade israelita naquele dia, já Felipe comunicou a família apenas que iria acampar, sem comentar exatamente com quem e, por conta disso, sua mãe presumiu que o garoto iria com alguns amigos.
Com os pais avisados sobre a viagem, mesmo que sem saber informações relevantes, o casal saiu na noite do dia 31 de Outubro de 2003 e passou a madrugada sob o vão livre do MASP, na Avenida Paulista, onde ficaram por volta de até às 5hs do 1°, quando chegaram ao Terminal Rodoviário Tietê. Os dois desembarcaram em Embu-Guaçu por volta das 09hs e pegaram outro ônibus para Santa Rita, perto do sítio abandonado onde iriam acampar.
"Champinha" e "Pernambuco", como eram chamados, estavam passando na região para ir pescar quando viram o casal pela manhã e tiveram a ideia de roubar os estudantes. O casal foi abordado à tarde, no entanto, quando os criminosos notaram que eles estavam sem dinheiro, optaram por sequestrar os dois.
Liana e Felipe foram levados para um sítio próximo da região onde iriam acampar que iria servir como cativeiro, entretanto os sequestradores decidiram que a melhor opção seria transportá-los para a casa de um amigo dos dois que não estava no momento. Liana chegou a tentar argumentar com os homens, dizendo que era de uma família rica e propôs a solicitação de um resgate em troca da libertação do casal, porém o grupo decidiu ignorar os apelos da menina. Naquela noite, a Liana foi estuprada por Pernambuco enquanto o Felipe permaneceu em outro quarto e, dado ao estado de choque da garota, ela nem ao menos conseguiu reagir ao ato.
No dia seguinte, os estudantes foram obrigados a caminhar por uma trilha e, enquanto Pernambuco seguia em diante com Felipe, Champinha ficou com Liana na mata. Naquele dia Pernambuco assassinou Felipe nas proximidades de um barraco com um tiro na nuca à queima roupa e, quando questionado pela Liana, ele apenas comentou vagamente que libertou Felipe e o jovem fugiu, porém a garota não acreditou já que chegou a ouvir o disparo, mesmo não tendo visto o corpo do namorado.
A Brutalidade de Champinha
Liana permaneceu no poder de Champinha durante os outros dias de seu sequestro e Pernambuco fugiu para a cidade de São Paulo. Para o tormento de Liana, ainda no mesmo dia em que Felipe foi assassinado, ela foi mais uma vez abusada, só que desta vez por Champinha.
No terceiro dia do seu sequestro de Liana, o pai dela acabou descobrindo que ela havia viajado com o namorado e, preocupado os dois haviam se perdido já que nenhum deles dava algum sinal de que estavam bem, acionou o Comando de Operações Especiais (COE), que iniciou as buscas pelo casal. Rapidamente o acampamento dos dois foi descoberto e, além da barraca, as roupas de Liana e Felipe também estavam lá, assim como a carteira e o celular da garota.
Antônio Caitano Silva, dono da casa onde Champinha estava com Liana, retornou com um amigo chamado Agnaldo Pires. Os dois questionaram Champinha sobre quem era Liana e o adolescente a apresentou como sua namorada, chegando até mesmo a oferecê-la para os colegas a violarem. Com a oportunidade posta em sua frente, Agnaldo violentou Liana, e após terminar com o ato, os dois, junto de Antônio e Champinha, foram para o primeiro sítio que tinha sido usado como cativeiro inicial de Liana e Felipe.
Nesse mesmo dia, o irmão de Champinha foi atrás do adolescente para informar que a mãe deles estava preocupada com sua ausência e, tentando não levantar nenhuma suspeita, Champinha também apresentou Liana ao irmão como sua suposta namorada.
Vendo que a polícia já tinha encontrado o acampamento do casal e estava procurando pelos dois, Champinha decidiu que a melhor opção seria matar Liana. Sendo assim, ele apenas disse aos amigos que levaria a garota para a rodoviária, entretanto levou Liana para uma área de mata fechada durante a madrugada e a assassinou com uma faca peixeira no dia 5 de novembro, desferindo diversos golpes em seu pescoço, tórax e costas, apenas deixando o local quando teve a certeza de que Liana estava morta. Os corpos do casal foram encontrados no dia 10 de novembro.
Condenação dos Responsáveis
Champinha e seus comparsas foram presos alguns dias depois dos crimes. Em Julho de 2006, Antônio Caetano da Silva, Agnaldo Pires e Antônio Mathias de Barros, foram condenados, respectivamente, a 124, 47 e 6 anos de prisão. Em novembro de 2007, Paulo César da Silva Marques, o “Pernambuco”, foi condenado a 110 anos e 18 dias de prisão pelo assassinato de Felipe.
Champinha (Roberto Aparecido Alves Cardoso) era considerado o líder, mesmo sendo o mais jovem dentre todos, tendo apenas 16 anos de idade na época. Ele foi internado na Unidade 1 da Fundação Casa (antiga Febem), do Complexo Vila Maria, Zona Norte de São Paulo. Ao completar 21 anos, o Ministério Público requereu sua interdição civil com base na Lei 10.216/2001. Um laudo psiquiátrico apontou que Champinha tinha doenças mentais graves, como o transtorno de personalidade antissocial e leve retardo mental, podendo apresentar riscos à sociedade.
Por conta disso, Champinha foi transferido para uma Unidade Experimental de Saúde (UES), destinada à recuperação de jovens infratores com distúrbios mentais, onde permanece até hoje e, desde então, sua custódia se tornou responsabilidade do governo paulista. Champinha já teve pedidos de liberdade negados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP).
Discussões da Redução da Maioridade Penal
Como o caso ganhou a grande mídia brasileira, ele levantou inúmeras discussões sobre a redução ou não da maioridade penal para 16 anos, levando em conta argumentos como o fato de que um adolescente com 16 anos já têm o discernimento para responder por seus atos, afinal até mesmo possui o direito de votar, mesmo não sendo obrigatório, ou o fato de que as medidas socioeducativas do ECA são muito brandas.
Porém como bem sabemos, as discussões mesmo sendo grandes e ganhando cada vez mais o povo brasileiro, não mudaram muito sobre como as coisas funcionam no sistema do ECA e no sistema carcerário brasileiro.
Comments